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ZECA BALEIRO
Agradecemos ao Zeca Baleiro pela atenção e a  Adriana Bueno Casagli, da Bueno Assessoria de Comunicação, que nos atendeu e fez o "meio de campo" com o Zeca
 

  1. Zeca, grande alegria termos você por aqui. Gostaríamos de começar pedindo que você nos conte sobre o seu envolvimento com a música. Como começou tudo lá no Maranhão ?
    Bem, comecei a fazer música lá pelos 14 anos, e a partir daí participei de alguns festivais. Cheguei a vencer um deles, um Festival Universitário realizado em São Luís, e isso me encorajou bastante. Depois disso, passei um tempo tocando na noite de Belo Horizonte, o que foi pra mim uma grande escola. Em 91, mudei-me pra SP, onde moro até hoje.
     
  2. Ouvindo os seus discos, pode-se claramente notar conceitos completamente diferentes. Entre eles, o Líricas e o último, Pet Shop Mundo Cão, são completamente opostos. Como você transita por ritmos, sons e propostas tão diversas? Qual deles é o seu preferido?
    Sou cria do rádio. Ouvi desde menino Luiz Gonzaga, Martinho da Vila, Pinduca e Bee Gees com a mesma paixão. O ouvinte sem preconceito tornou-se um compositor com gosto pela diversidade. O meu disco preferido é o próximo.
     
  3. Como está o seu projeto de produção de um disco só com poesias da recém falecida Hilda Hilst ?
    Está em andamento, quero finalizá-lo até setembro. Já gravaram Zélia Duncan, Maria Bethânia, Jussara Silveira, Olívia Byington, Verônica Sabino e Ná Ozzetti, faltam outras 4. Está ficando super bonito.
     
  4. Na época do show Líricas, assim como do Pet Shop Mundo Cão falou-se que seria feita a gravação em DVD desses dois shows, só que eles nunca foram disponibilizados para o público. Esses DVDs ainda serão lançados ou esses projetos foram cancelados ?
    Desde o show “Vô Imbolá”, eu e a minha produção temos tido o cuidado de gravar os shows (áudio e vídeo) com toda a qualidade técnica possível. Até outubro, deve sair o “Pet Shop”, na seqüência o “Líricas” e depois o “Vô Imbolá”.Temos trabalhado na finalização desses dvds desde o início do ano.
     
  5. No projeto Balaio do Sampaio, você interpretou com muita sensibilidade uma canção de Sérgio Sampaio. Você pensa em re-gravar mais alguma composição de Sérgio ? Esse ano está se completando 10 anos da morte prematura desse grande compositor e cantor que até hoje não teve, infelizmente, sua contribuição à nossa música reconhecida. Você chegou a conhecer o Sérgio Sampaio ?
    Tive o prazer de conhecer o Sampaio, certa vez no Circo Voador, em 89. Na ocasião, eu e quatro amigos do Maranhão planejávamos fazer uma revista cultural, e nesse dia convidei o Sérgio para ser o nosso primeiro entrevistado. A revista acabou saindo sem a entrevista, pois ele demorou a enviá-la pra nós. Infelizmente não houve segundo número e a entrevista permanece inédita. Depois do Balaio, tornei-me amigo de sua ex-mulher e do seu filho João. Eles me deram há alguns anos uma fita dat com algumas canções inéditas e lindas, gravadas pelo Sampaio num estúdio em Salvador. Estou trabalhando neste momento nesse projeto também, concluindo o que seria o quarto disco dele, batizado pelo próprio de “Cruel”.
     
  6. Você é o quarto a gravar um disco em dupla com Fagner. Antes tivemos Cirino, Ney Matogrosso e Zico, só que esses ficaram restritos a compactos. Alguma chance da carreira da dupla prosperar em termos de discos ou vocês ficam por aqui ?
    Está de bom tamanho, não? senão viramos dupla sertaneja! Mas a parceria continua, claro.
     
  7. Você tem declarado em diversas entrevistas que conhece todos os primeiros discos da carreira de Fagner. Quais músicas você poderia destacar como importantes para a sua formação musical?
    Difícil citar músicas, mas de “Manera Fru Fru” até “Beleza”, conheço as canções de cabo a rabo. Posso até citar algumas, mas diria que é uma lista bem parcial : “Cigano”, “Motivo”, “Como Fosse” e “Tambores”.
     
  8. Duas músicas do disco, contém curiosidades pouco percebidas pela mídia: A música Balada de Agosto já havia sido gravada por Fagner, com outra letra, no disco Romance no Deserto de 1987, com o título de Paraíso Proibido. Nos anos setenta, Fagner a cantava em shows, porém com uma terceira letra, vinda de um poema de Cecília Meirelles, intitulado de Malogrado. O poema Daqui pra lá, de Lá pra Cá, já havia merecido uma música, de autoria de Sérgio Brito e gravada pelos Titãs, no disco A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana. A música de vocês é, portanto, a segunda sobre o mesmo poema. Como você vê tais fatos? Você conhece as outras versões das duas músicas?
    Quando começamos a reunir as canções pra escolher o repertório do disco, o Fagner me mostrou duas parcerias com a Cecília “Malogrado” e “Taberna”, ambas obras-primas. Me apaixonei pela primeira e insisti pra incluirmos no cd, mas há tempos que ele tem dificuldades com a família da poeta. Então ele pediu pra eu preparar outra letra, pois ele não lembrava da existência da letra do Fausto, e tampouco eu sabia. Foi uma grande responsa, mas gosto muito do resultado. Quanto à letra do Torquato, soubemos depois de gravar, da existência de outra música gravada pelos Titãs. Não a conheço. O fato é que essa letra ficou anos nas mãos do Fagner, e um dia ele me mostrou entre outras letras guardadas. Em dois tempos a canção ficou pronta, foi pá e bola.
     
  9. Existe algum fato curioso, engraçado, sobre a turnê com Fagner?
    Muitos. Foi uma turnê muito boêmia. Depois de alguns shows, rolaram porres homéricos, como em São Luís, em que nós amanhecemos no Bar do Léo, um bar dentro de uma feira. O Léo é um colecionador, alucinado por música brasileira, o Fausto estava presente, o cara tinha tudo lá, todos os discos que você imaginar, em vinil ou cd. Foi uma farra.
     
  10. Um amigo da Página, Alan Romero, observou a influência da Canção "Sodade" de Cesária Évora em "Hotel à Beira-Mar". Fale-nos sobre isso.
    Sou um grande fã da música caboverdiana há algum tempo. Ano passado toquei lá e conheci vários músicos locais. Vejo muita semelhança entre a música que eles fazem lá e a canção praieira nordestina. Esse disco foi gerado à beira-mar. Propus ao Fagner, que é um grande fã da Cesária, que fizéssemos uma morna, que é como é conhecido esse ritmo. Assim nasceu “Hotel à Beira-Mar”.