ENTREVISTA: TOTONHO LAPROVITERA
Ele é arquiteto, artista plástico, poeta e letrista.
A Página dos Amigos de Fagner tem a alegria de trazer mais um grande talento da terra do sol para conversar com a gente.
- Totonho, grande prazer em tê-lo por aqui. Vamos começar falando de como a arte entrou em sua vida.
TL – Prazer imenso é o meu em estar aqui na Página dos Amigos de Fagner.Bem, a minha mais remota lembrança me leva à arte fazendo parte da minha vida, portanto, acredito que já nasci com ela. Depois, ao longo dos anos, juntos fomos nos desenvolvendo e na década de 70 fiz parte da geração do Centro de Artes Visuais Casa de Raimundo Cela, em Fortaleza. Desde então venho realizando exposições pelo Brasil e exterior, divulgando a expressão do universo da cultura nordestina e procurando estabelecer em meus temas uma infinita realidade plástica e poética.
- Arquitetura, artes plásticas, poesia e composição. Em qual dessas atividades você se sente mais à vontade?
TL – É prazeroso o processo criativo em quaisquer das atividades que exerço. Em geral, eu me sinto à vontade quando estou me expressando artisticamente, pois a arquitetura, as artes visuais, poesias e letras são atividades correlatas e, no meu caso, uma “ajuda” a outra.- Exposição coletiva 3 amigos. Você, o fotógrafo Wiron Batista e Raimundo Fagner. Como foi?
TL – A exposição coletiva “3 amigos” surgiu em decorrência de uma outra, a “4 artistas cearenses – Raimundo Fagner, Ricardo Bezerra, Wiron Batista e Laprovitera”, realizada em Natal, em 1995. Foi a estréia do Raimundo em exposição de artes plásticas. O sucesso foi tanto, que a Secretaria de Cultura do Ceará após tomar conhecimento do êxito da mostra nos convidou para realizarmos em Fortaleza e em três instantes: No Caesar Park Hotel, no Museu de Ceará e na Galeria Ramos Cotôco, no Theatro José de Alencar. Na ocasião, o Ricardo estava muito envolvido com a tese de doutorado dele e não participou, apenas nos apresentou no catálogo da mostra. Foi o evento de artes visuais da cidade de maior visitação pública, na época.- E seu trabalho como letrista, quantas músicas suas já estão gravadas?
TL – Tenho pouca coisa gravada em disco, mas o que me importa é a satisfação de ter letras gravadas por excelentes artistas, tais como Amaro Penna, Chico Pio, Ednardo, Gaubi Vaz, Herman Torres, Humberto Pinho, Joaquim Ernesto, Manassés de Sousa, Nonato Luiz, Wagner Castro e Zivaldo Maia.- Você toca algum instrumento?
TL – Certa vez, quando eu fiz uma letra para um chorinho do Zivaldo, ele me fez essa mesma pergunta. Eu lhe respondi: Nenhum, mas sei contar nos dedos. Mas, por não saber tocar um instrumento, o que me ajuda muito na concepção de uma letra é o conhecimento que adquiri na formação de arquiteto através da metodologia de projetos. O desenvolvimento do processo criativo de uma letra em muito se assemelha ao do projeto arquitetônico.- Você tem quantos livros de poesia publicados?
TL – Tenho muitas poesias publicadas, mas nenhum livro ainda. Agora, publicado eu tenho um livro contando historietas etílicas, ou seja, pequenas e bem humoradas histórias da nossa boemia.No entanto, tenho a pretensão de reunir umas letras, poemas, textos, desenhos, pinturas, gravuras num álbum com um disco encartado. E, se Deus quiser, em breve.- Fale-nos um pouco sobre a experiência de comandar um programa na TV.
TL – Quando me convidaram para apresentar um programa na TV eu aceitei, mas desde que fosse num formato inusitado. Assim, meio glauberiano... “Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”... Combinado e acertado, fizemos e conseguimos realizar entrevistas em espontâneos bate-papos, todos bem à vontade. Ano passado fomos ao ar em oito programas, sendo dois deles gravados em Paris. Depois, paramos para as devidas correções, ajustes, aperfeiçoamentos e novidades. Para este ano contamos com um projeto bem mais ousado. Aguardem!
Está sendo uma experiência fascinante.- O que você acha da nova geração de cantores/compositores cearenses?
TL – Curioso, como o manancial artístico cearense é incessantemente rico e produz música de excelente qualidade. A vasta e nova geração de cantores/compositores cearenses é muito talentosa e conta com um naipe de músicos virtuosos. Aliás, a nossa música instrumental é extraordinária! O Fagner sabe disso e hoje tem a sua banda composta em quase toda a sua formação por músicos cearenses.- Onde e quando você conheceu Fagner?
TL – Conheci o Fagner através do Wiron, numa viagem que fizemos de Fortaleza a Natal, em meado da década de setenta. Fomos num fusca laranja, lotado de bagagem até a tampa e que deu prego de gasolina assim que chegamos ao nosso destino. Nessas condições, não tem quem não se aproxime, né?
É um grande amigo, um irmão escolhido.- Você participou da turma “Raça Ruim da Lauro Maia”?
TL – Da “Raça Ruim”, que é composta em sua maioria por amigos de infância, sou cristão novo. Participo da turma apenas em seu segundo instante, o do reencontro da boa gente da rua Lauro Maia, onde habitualmente freqüentamos a divertida esquina do Vaval.- Você tem alguma parceria com Fagner que esteja “na gaveta”?
TL – Temos uma parceria que surgiu de uma brincadeira para “homenagearmos” um amigo que havia se convertido religiosamente. Chama-se “Emergente da fé” e, na verdade, nunca foi concluída. No mais, cheguei a fazer algumas versões pra ele. Mas, ta tudo na gaveta.
Efetivamente, nossas parcerias são nas artes plásticas, com a realização de diversas exposições.- E a experiência de falar para o público universitário como você fez recentemente na Unifor?
TL – Eu nunca havia me imaginado dando palestra para universitários e, principalmente, do curso de Letras. Mas o tema “Palavra e imagem”, sugerido pela poetisa e professora Aíla Sampaio, tem tudo a ver comigo e em muito me ajudou. Também contei com uma platéia muito bacana, ao ponto de permitir a minha descontração no sério ambiente acadêmico da Unifor. Foi um aprendizado que me deixou bastante feliz.- Recentemente você esteve em Portugal fazendo uma exposição de seus quadros. Como foi?
TL – Ótima! A oportunidade de ter realizado uma exposição individual em Lisboa me deixou bastante orgulhoso. Foi a minha segunda experiência internacional (a primeira foi em Paris) e mais uma vez pude constatar o quanto é importante divulgar a nossa cultura e é bom obter o reconhecimento da crítica européia. ”Cante sua aldeia e serás universal”, disse Leon Tolstoi. “Não troco o meu ôxente por ok de ninguém”, protestou Ariano Suassuna. “Cante lá, que eu canto cá”, poetou Patativa do Assaré. Pois é, Cangaço e Galinhas foram os dois temas que apresentei através de pinturas e infogravuras e despertaram muita curiosidade em relação à cultura da gente nordestina brasileira. No mais, a Península é Ibérica e eu sou da Latina América.-Hoje Fortaleza é uma das capitais mais modernas e bonitas do Brasil. Sua arquitetura arrojada e os projetos do porte do Centro Cultural Dragão do Mar fazem dela um exemplo para todo o país. Como você vê a Arquitetura cearense?
TL – Tudo começou há 280 anos, quando surgiu a cidade...
Interessante, a evolução urbana de Fortaleza. No século passado, por exemplo, até os anos 40 a cidade era influenciada pela cultura francesa. A partir daí, quando da Segunda Guerra e com a presença dos norte-americanos, trocamos o champanhe pela Coca-Cola. Força do imperialismo exercido sobre a cultura de um povo.
Porém, o que muito contribuiu para o que há de bom e belo em nossa cidade foi a instalação da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Ceará, em 1964. Desde então passamos a discutir a cidade como um todo, a produzir uma arquitetura preocupada com a forma e função. Aprendemos a fazer uso da nossa própria linguagem e hoje, talvez, o nosso diferencial maior seja o da ousadia de sermos autênticos.
Fruto disso, o reconhecimento de sermos uma cidade com boa qualidade arquitetônica.- Quais seus próximos projetos?
TL – Estou desenvolvendo um projeto interessante com o Manassés. Somos parceiros em música e letra e agora seremos em música e imagem. Ele musicará infogravuras que tenho criado sobre o cangaço. Apresentaremos o resultado em exposição/show e registraremos em disco.
Outro projeto é o de uma mostra em Fortaleza, onde não realizo uma individual há cinco anos.
Por enquanto, são os que me ocupam.