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ENTREVISTA COM NONATO LUIZ

O Brasil é conhecido internacionalmente por ser um celeiro de grandes violonistas, temos dezenas de grandes intérpretes em todos os estilos, do popular ao erudito. Por outro lado, são tantos e tão bons os nossos compositores para o instrumento, de fama nacional e internacional, que já se fala com muita justiça numa verdadeira Escola brasileira de violão.

Dentre os grandes violonistas brasileiros, alguns poucos conseguiram o feito de ser grandes nas duas vertentes, como intérprete e como compositor. Nonato Luiz destaca-se naturalmente nesse panorama, ocupando um lugar que é só seu por direito. Poucos violonistas podem se orgulhar de ter produzido uma discografia tão vasta, hoje com cerca de 30 discos, gravados em diversos países. Mais conhecida no exterior do que em sua própria terra, sua obra vem sendo difundida pela prestigiosa editora Henri Lemoine, de Paris.

Além de sua obra como solista e compositor, reconhecida pelo público afeiçoado à boa música instrumental, Nonato sempre esteve ligado ao mundo da música popular, o que tornou-o conhecido por um público mais vasto. Essa intensa atividade dividiu-se em duas vertentes: seja acompanhando grandes intérpretes, seja compondo canções, com parceiros diversos. Apesar de ter acompanhado e sido gravado por diversos cantores, sem sombra de dúvida Fagner foi o intérprete fundamental na carreira do Nonato, um verdadeiro divisor de águas. Foi Fagner quem produziu e lançou o seu disco de estréia, e foi Fagner o primeiro a gravar as suas canções. Nonato chegou a tocar na banda do Fagner por um curto período, mas teve que desligar-se para dar prosseguimento à sua carreira de solista. No entanto, a ligação entre os dois nunca se rompeu e, pelo contrário, foi sempre renovada e fortalecida, como atestam as gravações mais recentes. No cd Canções, o songbook do Nonato, Fagner interpreta uma das faixas. E o último cd de Fagner tem como faixa-título uma canção feita em parceria com Nonato.

A Página dos Amigos de Fagner conversou com Nonato e hoje traz para vocês o depoimento desse grande artista, que fala de sua obra e de sua ligação com Fagner.

(Texto de apresentação feito por nosso amigo Alan Romero)

1) Gostaria que você nos falasse sobre um disco seu que não é muito conhecido. Trata-se de Violão Brasileiro de 1982, lançado pelo Grupo Estua e produzido por Carlos Marques. Pelo que consta, foi um disco lançado como apoio e incentivo à sua 1a. Tournée européia. Fale-nos sobre esse projeto.
R: Foi uma ótima iniciativa do meu amigo Carlos Marques, com o pronto apoio do Grupo Estua. Esse disco foi gravado ao vivo na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, pouco antes de minha estréia na Europa.

2) Na contra capa de seu 1o. LP. Terra, lançado pelo selo EPIC, na época dirigido pelo Fagner, ele comenta que ainda não o conhecia, mas já tinha ouvido falar de você através do Fausto Nilo. Conte-nos como foi seu primeiro encontro com Fagner.
R: Fausto Nilo me convidou para fazermos uma visita ao Fagner, quando ele ainda dirigia o selo Épic, na Rua Visconde do Rio Branco. Nessa ocasião percebi, de cara, que seríamos eternos amigos e parceiros na música. Até hoje tem se cumprido o que previ naquele primeiro encontro. É bom lembrar que antes do LP “Terra” tive participação no álbum “Soro”, do mesmo selo, também com produção do Fagner.

3) No mesmo disco, constam algumas participações do Fagner. A interpretação do Quatro Prantos é belíssima, apesar de pouco divulgada. Além dela, Fagner participa em Mourisca e Tudo ou Nada. Como foi o processo de produção daquele disco?
R: Já havia composto todas as canções, assim como o arranjo para Mulher Rendeira, única que não é de minha lavra. Fagner já possuía um bom entrosamento com João Donato, e o convidou para participar. Donato fez dois arranjos (“Quatro Prantos” e “Tudo ou Nada”) e aparece ao piano na gravação da música “Terra”. Tenho um especial carinho por esse disco, que representa a minha estréia, solo, no mercado fonográfico.

4) Existem projetos futuros seus com o Fagner?
R: Não há nada formal, objetivo, no momento, mas sempre surgem quando menos esperamos, basta um encontro feliz, um palco compartilhado, enfim, um ambiente musical. Falo isso com satisfação, pois nasceram assim os projetos que já realizamos.

5) Algumas de suas composições são conhecidas do grande público a partir da interpretação dada por Fagner. É o caso de Quixeramobim, Acalanto e Paixão, Baú de Brinquedos, Rubi Grená, Baião da Rua, entre outras. Qual a importância de tais interpretações para sua carreira?
R: Fagner ocupa com muita desenvoltura e competência os espaços que o ambiente musical oferece, em todo o mundo. É um intérprete como poucos. Privar da amizade de um artista desse quilate já é uma grande alegria. Tê-lo como porta voz das minhas composições, além de honroso é de extrema importância para minha carreira, pois é sabido que a música cantada chega a um público bem mais abrangente que a meramente instrumental. Pessoalmente sou seu fã, não só quando canta minhas músicas.

6) Sobre Baião da Rua, ela foi gravada por você com o título Baião Cigano. Por que se deu a mudança de nome? Ela foi, inclusive, premiada. Você poderia falar um pouco da repercussão desta música?
R: Seu título original é “Baião Cigano”, como está registrado no primeiro CD que eu gravei, na Alemanha, intitulado “Mosaico”. Até então, essa música era apenas melodia. A mudança de nome decorreu da temática que Fausto Nilo colocou na letra, falando dos meninos de rua. A parceria rendeu o Prêmio Sharp de Música. É uma composição muito solicitada em minhas apresentações.

7) Na época do “Pessoal do Ceará”, bar do Anísio, dos agitos culturais em Fortaleza onde toda uma geração de artistas se formou, onde você estava ?
R: Era ainda um pouco jovem, não tendo tido a felicidade de conviver com essa geração boêmia nesses momentos tão ricos e prazerosos. Somente tempos depois é que vim a conhece-los no Rio de Janeiro.

8) Você tem feito muitas viagens aos mais diferentes países levando sua música. Em qual deles você encontrou um público mais receptivo à música brasileira ?
R: Todos os países são bastante receptivos à minha música. Devo destacar, porém, que me identifico mais com a Áustria, onde sinto uma melhor receptividade.

9) Durante sua carreira, você tem feito alguns shows acompanhando Fagner . Você se lembra de algum episódio engraçado acontecido em alguma dessas apresentações para nos contar ?
R: Certa vez, em pleno show, me pegaram distraído, quando havia parado de tocar por um instante, enquanto anotava o número de telefone de uma fã que se encontrava na platéia. O nosso querido Fagner viu tudo e não se esqueceu de divulgar.

10) Fale-nos sobre o seu mais recente trabalho, o CD em homenagem à Humberto Teixeira.
R: Trata-se de mais uma oportunidade que estou tendo de transcrever para o violão uma música que não foi composta para o meu instrumento, ou seja, é mais um desafio vencido, que desde já está me trazendo muita alegria.

11) Um trabalho importante seu foi o recente Canções, que reuniu grandes intérpretes para músicas suas das mais conhecidas. Estão no cd, Fagner, Belchior, Ednardo, Fausto Nilo, Paulinho Pedra Azul, Geraldo Azevedo, Fausto Nilo, entre outros. Nele, consta uma gravação definitiva, embora pouco conhecida do grande público, com Fagner: Baú de brinquedos. Além dela, regravações de Rubi Grená, Acalanto e Paixão, Baião da Rua, Quixeramobim, entre outras. Infelizmente, este cd não foi trabalhado em nível nacional. Qual a sua opinião sobre este trabalho.
R: É um disco que mostra uma outra faceta da minha música, pouco conhecida do público, qual seja a linguagem da música com as palavras. Revela uma característica que não é encontrada na obra de todo compositor para instrumento. Além disso, é qualificado pela presença de um naipe de intérpretes de primeira linha. Atendendo a convite da produção do CD, aceitei a honra de também integrar esse elenco de intérpretes.

12) No mesmo cd, você aparece como cantor em Rubi Grená (em dueto com Kátia Freitas) e Acalanto e Paixão. É possível se ouvir um cd com interpretações de Nonato Luiz?
R: Uma canção ou outra, tudo bem. Um CD inteiro, não me passa pela cabeça, pelo menos no momento.

13) Em meados dos anos noventa, apareceu a notícia de que seria lançado um cd em parceria sua com Manassés, Naná Vasconcelos e Fagner. Tal projeto aconteceu de fato?
R: Não, pelo menos com a minha participação.

14) Você já ouviu falar em Yamandu Costa, mais um novo talento do violão brasileiro ? O que acha dele ?
R: Já ouvi, sim. Demonstra grande potencial e musicalidade.