DE CAMPINA A BODOCÓ
Geraldo Medeiros Júnior
Após o réveillon, o primeiro show oficial de Fagner no ano. A cidade Bodocó,
famosa após as citações nas músicas de Luiz Gonzaga (“quando vim seu moço do
meu Bodocó”) em Pau de Arara e em Respeita Januário (“de Salgueiro a Bodocó
Januário é o maior”). Cidade pequena, Bodocó contratara Fagner para encerrar
uma deliciosa festa em homenagem a São José, intitulada de festa
multicultural, com direito a forró, mas também música eletrônica, MPB e
forró pé de serra.
Para mim, além de merecidos dias de descanso, a oportunidade única de conhecer a cidade de Exu, terra de Gonzaga e de mergulhar um pouco mais sobre a história do rei do baião. O roteiro, que significou uma viagem de 540 quilômetros a partir de Campina Grande, resumia-se ao tripé Ouricuri, Bodocó e Exu.
Sobre Exu, mais decepções do que descobertas. Se por um lado a memória de Luiz Gonzaga permanece preservada pela existência do Museu por ele mesmo criado e dos shows que sempre acontecem no dia 13 de dezembro (ocasião de seu aniversário de vida), por outro lado, o acervo poderia ser mais rico, caso contasse com mais apoios. Hoje o Museu é de propriedade de uma família de Exu e não conta com apoio oficial. Para visitá-lo o turista paga a simbólica quantia de dois reais, única fonte de recursos daquele importante monumento. Senti falta dos discos do Gonzagão, de conhecer mais sobre os grandes momentos de sua carreira, em especial, como não poderia deixar de ser, sobre a parceria com Fagner. Vê-se apenas uma visão superficial, com fotos, quadros com títulos de cidadão de diversos lugares, alguns recortes de jornais, roupas do rei, mas não muito mais que isto. É preciso que os poderes públicos, ou os amantes da obra do Gonzagão se sensibilizem para reforçar a memória, em especial resgatando a grandeza daquela obra para as próximas gerações. O espaço do Museu inclusive poderia significar, de forma mais permanente, em oferta turística pra toda a região.
Para mim, foram momentos de emoção, de mergulho a um passado que não vivi. Ouvindo sempre Luiz Gonzaga, conversei com pessoas, andei nas ruas de Exu e Bodocó, vi a simplicidade das pessoas, que hoje não mais andam a pé – como sugere Estrada do Canindé – mas que possuem motos ou carros. Senti-me muito em casa com tanta gente honesta, boa, simples, típica do sertão nordestino.
Bodocó é uma cidade muito pequena, com apenas uma pousada, nesta época evidentemente cheia. Por isto mesmo, acabei por me hospedar em Ouricuri, cidade tranqüila e muito agradável, pelo que soube o mesmo aconteceu com Fagner e banda, distante a apenas vinte quilômetros de Bodocó.
No show, um Fagner, no meu ponto de vista, à vontade por cantar para uma gente, que apesar de vê-lo pela primeira vez, muito sua. Impressionou-me que a multidão acompanhou em todas as músicas. Em seguida, haveria show da banda Magníficos, mas parecia que todos tinham vindo mesmo para ver Fagner. No repertorio, a volta de sucessos resgatados recentemente a exemplo de Cartaz, Deixa Viver, Romance no Deserto, Retrovisor, Fanatismo também os sucessos de sempre, obrigatórios, a exemplo de Espumas ao Vento, Revelação, Deslizes, Borbulhas de Amor, Canteiros e os forrós e xotes tradicionais da parte final do show, desta vez com Lembrança de um beijo, Pedras que Cantam, Vaca estrela e boi fubá. De Luiz Gonzaga, Vem Morena e, uma surpresa para o público, Pau de Arara, espécie de hino de Bodocó. Como o arranjo de Adelson se constituía em novidade, Fagner não entrou no momento certo, se transformando em música instrumental, tendo ele entrado apenas na segunda execução da melodia. Bendito erro! O público cantou a plenos pulmões “Quando vim seu moço do meu Bodocó, a malota era o saco e o cadeado era um nó...” Foi o momento mais bonito do show, senti inclusive a emoção viva no semblante do próprio Fagner.
A banda está como poderia se dizer, redondinha redondinha. Composta quase que inteiramente por músicos cearenses, em Bodocó acompanharam Fagner Adelson e Reno nos teclados e sanfona, Aroldo no baixo, Denílson na bateria, Otto Junior na percussão, Manasses na viola e violão, Cristiano Pinho na guitarra e o impressionante Spock no sax e flauta. A sintonia entre os músicos, fazia transbordar alegria em todos os momentos.
Em Bodocó, um Fagner motivado, capaz de realizar mais um dos bons shows, que foi a marca do ano de 2005. Tomara que neste ano tenhamos ainda muito mais shows nos quatro cantos do país. O que ele fez no ano passado mostra que ele é artista de palco e que, motivado, poderá escrever ainda trechos e trechos dos mais bonitos na história da nossa música.
Terminado o show, volta à vida normal, estrada de volta. No matolão, levo de volta para Campina Grande uma mente renovada, projetos de vida, histórias e estórias do sertão e planos para assistir ao próximo show do nosso Raimundo Fagner.